Arquivo para download: Carta ao pai, de Franz Kafka

Todas aquelas idéias na aparência independentes de você estavam desde o início gravadas pelo seu juízo desfavorável: suportar isso até a exposição completa e duradoura do pensamento era quase impossível. Não falo aqui de pensamentos elevados de qualquer natureza, mas de todos os pequenos empreendimentos da infância. Bastava estar feliz com alguma coisa, ficar com a alma plena, chegar em casa e expressá-la, para que a resposta fosse um suspiro irônico, um meneio de cabeça, o bater do dedo sobre a mesa: "Já vi coisa melhor", ou "Para mim você vem contar isso?", ou "Minha cabeça não é tão fresca quanto a sua", ou "Dá para comprar alguma coisa com isso?", ou "Mas que acontecimento!". Naturalmente não se podia exigir de você entusiasmo por qualquer ninharia de criança, vivendo como vivia, cheio de preocupação e trabalho pesado. Nem era disso que se tratava. Pelo contrário, tratava-se do fato de que você precisava causar essas decepções ao filho, sempre e por princípio, graças ao seu ser contraditório.

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