Arquivo para download: A vida de Spinoza, por Colerus

Enquanto permanecia em casa não incomodava a ninguém, passava a maior parte de seu tempo tranqüilamente em seu quarto. Quando lhe acontecia de se encontrar fatigado por ser muito dedicado a suas meditações filosóficas, ele descia para se distrair, e falava aos da casa de tudo o que pudesse servir de matéria a um entretenimento ordinário, mesmo de frivolidades. Entretinha-se também algumas vezes a fumar um cachimbo; ou então, quando queria relaxar o espírito um pouco mais longamente, ele procurava aranhas e as fazia brigarem entre si, ou as moscas que ele jogava na teia de aranha, e olhava em seguida esta batalha com tanto prazer que às vezes caía na risada. Observava também ao microscópio as diferentes partes dos menores insetos, de onde tirava depois as conseqüências que lhe pareciam mais convenientes as suas descobertas.

De resto, ele não tinha nenhum apego ao dinheiro, como nós tínhamos dito, e se contentava em ter, sem se preocupar com o futuro, o que lhe era necessário para sua alimentação e para sua subsistência. Simon de Vries, de Amsterdã, o qual testemunhou muita afeição por ele na Carta vigésima sexta e que o chama ao mesmo tempo seu fidelíssimo amigo (amice integerrime), lhe deu um dia de presente uma soma de dois mil florins, para que pudesse viver com um pouco mais de bem-estar; porém Spinoza, em presença de seu hospedeiro, escusou-se polidamente a receber este dinheiro, com o pretexto de não ter necessidade de nada, e que tanto dinheiro, se ele o recebesse, o desviaria infalivelmente de seus estudos e de suas ocupações.

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